Em doze de julho foi comemorado o dia da psicologia boliviana. Embora o dia doze de setembro seja a data de registro formal do curso (Via Orellana, 2000, 53), o doze de julho constitui já um símbolo, o marco oficial de sua institucionalização, data que remete à inauguração, em 1971, do primeiro curso de Psicologia, organizado na Universidad Católica Boliviana San Pablo (UCB) a partir do plano de estudos desenvolvido por Alberto Conessa, Alberto Seleme e René Calderón.
A psicologia esteve presente desde muito cedo no ensino universitário boliviano moderno. Existem registros de aulas de psicologia baseadas nas obras de William James e Pierre Janet que datam de 1904. Na década de 1940, Juan Capriles, lecionando Neurologia e Psiquiatria, sugeria já os textos de Emilio Mira y López (autor que teve importante papel no desenvolvimento da psicologia brasileira). Na década de 1950, um curso de história da psicologia era ministrado na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidad Mayor de San Andrés (UMSA). Em 1959, a primeira cátedra titular era criada (também na UMSA).
Entretanto, até o final da década de 1960, a psicologia encontrava-se dispersa pelos cursos de Medicina, Filosofia, Letras, Direito, Serviço Social e Enfermagem, recebendo, por essa razão, influências difusas que, conquanto lhe permitiam enriquecer-se teoricamente, dificultavam-lhe o desenvolvimento autônomo. A prática psicológica encontrava-se igualmente dispersa. A organização do plano de estudos e a criação, em 1970, do primeiro Departamento de Psicologia, na UMSA, permitiram a centralização e uma relativa unificação do ensino. A centralização do atendimento psicológico e do serviço de orientação vocacional, por sua vez, até então a cargo de médicos psiquiatras e sacerdotes jesuítas, veio por meio da criação, em 1968, do Centro de Serviços Psicológicos da UCB.
Em certa medida, essas transformações respondiam à crescente demanda por recursos humanos qualificados, num período de grandes agitações sociais, conflitos políticos e reordenamentos econômicos. Alguns anos antes, em 1952, o país vivia uma revolução que procurava promover uma reforma agrária que pusesse fim aos latifúndios herdados de seu passado colonial e devolver ao Estado a posse das minas de prata e estanho, principal recurso mineral do país.

Mas a psicologia boliviana, que nasceu em tempos de contrarrevolução e fortemente vinculada à uma instituição cristã, é hoje bastante diferente. Quarenta e dois anos após a criação do primeiro curso de psicologia, o psicólogo boliviano tem, seguramente, razões para comemorar. Não fosse pelo que a data representa em si mesma; não fosse pelo que ela representa para a consolidação institucional e o desenvolvimento da psicologia boliviana, existe o fato de que o país vive um dos momentos mais dramáticos de sua história recente, buscando superar, através de políticas públicas voltada para o desenvolvimento industrial e para a atenção à população de origem indígena e campesina, a histórica e triste realidade de desigualdade e miséria imposta por um passado de forte dominação colonial e uma série de nefastos regimes militar-ditatoriais.
Todas essas grandes transformações objetivas, todas essas mudanças sociais, políticas e econômicas que se realizam hoje na Bolívia, na medida em que encontram repercussão subjetiva, abrem para o psicólogo boliviano todo um leque de problemas teóricos e de desafios práticos que apenas uma psicologia preocupada em promover uma formação plural e humanista, como tem sido a marca da psicologia boliviana nas últimas décadas, poderá ser capaz de fazer frente.
Fontes:
Via Orellana, Félix. (2000). Historia y formación del psicólogo en Bolivia. Rev. Cien. Cult., La Paz, 8, 51-62.
Calderón Jemio, R. (1999). La Psicología en Bolivia. In: Psicología en las Américas. Caracas: Sociedad Interamericana de Psicología.
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