Nova publicação lança luz sobre relações entre Psicologia e ditadura no Brasil

Hoje, 1 de Abril, relembra-se os 50 anos da infame data de 1 de Abril de 1964, quando a democracia constitucional brasileira foi tomada de assalto por setores militares, com amplo apoio logístico e ideológico das burguesias empresarial, latifundiária e midiática e do governo dos EUA.

O quadro de regimes ditatoriais militares na América Latina durante a Guerra Fria não ocorreu de forma descoordenada, senão como parte de um projeto internacional de manutenção do continente na esfera de dependência estadunidense. Entretanto, os processos ditatoriais nos diferentes contextos nacionais iberoamericanos (relembrando que nossos colonizadores ibéricos de outrora também viveram longas ditaduras no século XX) guardam semelhanças e diferenças.

Uma razoável (embora ainda insuficiente) quantidade de trabalhos historiográficos tem se detido na análise das relações entre a Psicologia e os psicólogos e psicólogas entre os diversos regimes ditatoriais que usurparam a democracia na América Latina.

No contexto do Brasil, tais análises se centram no delineamento da paradoxal relação entre o campo psi e as ditaduras, oscilando entre um apoliticismo intimista hegemônico, a colaboração direta ou indireta com o regime e ações individuais de protesto e resistência.

Uma nova obra, “A VerdCFPade é Revolucionária: testemunhos e memória de psicólogas e psicólogos sobre a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)“, produto do trabalho da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP), vem trazer nova contribuição à memória daqueles tempos. O livro é composto por 57 depoimentos de psicólogas e psicólogos vítimas de prisões, tortura ou demais violações de direitos durante a ditadura brasileira. O livro foi editado pelo CFP e também se encontra disponível gratuitamente online aqui.

O mérito da obra se situa nos aspectos político e informativo, no tocante ao resgate de depoimentos e narrativas silenciadas – o que foi o objetivo da obra. Com relação ao aspecto historiográfico, há, entretanto, algumas limitações metodológicas (que fogem ao escopo próprio do trabalho e das estratégias adotadas). O conjunto de depoimentos.cobre apenas 15 dos 27 estados [é grave a ausência de depoimentos do Rio de Janeiro!], o que se deve à forma de contato dos entrevistados (indicação dos Conselhos Regionais que se envolveram com o projeto). Além disso, as fontes exclusivamente orais acabam por privilegiar a memória dos que sobreviveram em relação àqueles que morreram.

Enquanto profissionais e investigadores da memória, em suas dimensões individual e coletiva, nossa “des-comemoração” desta odiosa efémeride da história brasileira é justamente o convite à leitura do livro a todos quantos interessados na historicização das práticas psicológicas e no seu compromisso com a realidade dos povos.

Para que nunca se esqueça! Para que nunca mais aconteça!

abaixo à ditadura

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